segunda-feira, 2 de maio de 2011

Texto premiado em concurso divulgado em Zero Hora, uma promoção ORTOPÉ ECO, planeta sustentável.


Lembranças que o tempo não apaga




Era criança, mas lembro-me bem, daquele tempo em que tudo era fantasia. Tudo natural, tão simples. Mas muito especial. Lembro-me que morávamos em um casa feita de barro e coberta de capim, nosso fogão era feito também de barro com um chapa em cima. Não tínhamos mobília comprada em lojas, pois eu nem sabia que existiam lojas, por isso nossos móveis eram rústicos, de madeira. Recordo que os colchões eram feitos com palha de arroz que era trocada todos os anos, na época da safra. A cama era cheirosa e macia. Em frente a nossa casa havia um jardim e nos fundos havia um pequeno açude onde nós brincávamos de viajar de barco em uma gamela. A gamela era usada para dar água aos animais, ela era pequena e somente comportava um de cada vez, mas era uma festa. Não tínhamos luz elétrica nem água encanada. A luz vinha de um lampião ou de um candeeiro que era feito com um pouco de gordura animal e um pedaço de pano feito de pavio. A água era trazida da cacimba e as roupas eram lavadas no açude. Meu pai plantava quase tudo que precisávamos para comer: tínhamos verduras, legumes, chás para quando alguém ficasse doente. Criávamos galinhas, porcos e o que não produzíamos era costume trocar com os vizinhos ou presentear aquilo que era produzido. Nas nossas brincadeiras, costumávamos ir para o meio da lavoura e lá, escondidas, fazíamos um fogo e fritávamos batatas que colhíamos , em uma panelinha velha. Outras vezes tinha a casa da árvore, em uma grande pitangueira. À noite, a família se reunia para contar casos de assombração, tomar mate e comer bolinhos frito. Não havia televisão. Poucas eram as pessoas que possuiam um rádio. Eu tinha um tio que não tinha estudo , mas era curioso, feito o Professor Pardal. Ele inventou uma espécie de rádio: a galena. Lembro que os vizinhos vinham ouvir as notícias e minha avó escutava as novelas no rádio. Tinha também o cinema, feito pelo meu tio, que recortava gravuras de gibis e fazia um rolo. Depois colocava em uma caixa de papelão com uma vela atrás e ia rodando o filme. Os vizinhos ficavam encantados e eu gostava de ver o filme da bruxa. Naquele tempo os temporais , as geadas eram enormes e as águas do açude ficavam como se fossem de vidro. Os ventos também eram muito fortes e lembro-me de meu avô e de meu tio segurando portas e janelas para o vento não abrir. As portas e as janelas eram fechadas com tramelas feitas de madeira. Quando a chuva passava, eu corria para o corredor para juntar peixinhos coloridos que caiam com a chuva. Até hoje não encontro explicação de onde vinham aqueles peixes que, hoje, compramos para colocar em aquários. Mas é verdade, esta lembrança está muito viva em minha memória.



Hoje, tenho três filhos e três netos e sempre conto a eles estas histórias de um tempo tão especial, tão saudável onde vivíamos em comunhão com a natureza e éramos tão felizes. Não existia riqueza material , mas havia amizade, respeito pela natureza, religiosidade e valores na família, que até hoje procuro transmiti-los a meus alunos e aos meus netos, pois educamos pelo exemplo e eu acredito que nem tudo está perdido, basta acreditarmos.

Zelia S. Cunha







6 comentários:

  1. Tenho lembranças parecidas. Na minha e em outras casas vizinhas não tinha a modernidade de hoje, o fogão era a carvão ou lenha. Geladeira, televisão e telefone... Era coisa pra rico. Mas eu nunca senti falta disso. Quando a nossa turma queria ver TV iamos distantes, como não havia perigo de assalto ou estupro a gente voltava caminhando até 22:00 h.

    Ô tempo bão.

    Bom dia bjo

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  2. Zélia

    Chuva de peixes? rsrs que rico

    Amei ler essas suas memórias, um tempo de pureza e simplicidade, onde a vida não era invadida pelo que não tem valor, havia tempo para ser.

    Mil beijos!

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  3. Conheço tanta gente que tem histórias lindas para nostalgiar daquele tempo de antigamente,do tempo da pureza.É tão bom...

    Fico pensando do que essa nova geração vai lembrar no futuro que os espera,com toda essa tecnologia que muitas vezes nos impede de ter uma vida limpa.Toda essa facilidade de dizer que ama,de na verdade não saber o que é amor.Toda essa violência...

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  4. Muito linda a descrição desses momentos, dessas lembranças. De algumas tenho vivência. Faziam parte de um lugar onde o chamado "progresso" não se instalara e onde a convivência entre as pessoas estava em primeiro lugar.

    Bjs.

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  5. Que lindo, Zélia.
    Quase vi o filme em minha mente através das descrições.
    Que época sadia! Naqueles tempos existia a verdadeira fraternidade, as pessoas estavam voltadas mais para a simplicidade e a pureza.
    Sem contar o alívio da mãe natureza.
    Abraço.

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  6. Oi fico muito feliz em saber que gostou do meu blog
    tudo é feito com muito amor e carinho para que você e outras pessoas como você se sintam bem É um prazer imenso para nós poder ter um contato assim
    tão carinhoso com nossos queridos seguidores e amigos deste blog
    Deus Abençoe Poderosamente SUA VIDA
    Obrigada pela alegria que senti
    ao abrir minha pagina e ver um recadinho seu.
    Obrigado pela visita.bjos de marcia e carlos

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